segunda-feira, 23 de maio de 2011

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Portas Abertas 2011


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No Sábado, 14 de Maio, ocorreu na UFRGS o evento Portas Abertas 2011, cujo objetivo é abrir as portas da faculdade para todos da comunidade interessados em conhecê-la melhor. Nesse dia a  FACED (Faculdade de Educação) ofereceu diversas oficinas, dentre elas a OFICINA MAFALDAS E SUSANITAS, ministrada pela profa. Aline Lemos da Cunha e suas bolsistas Clarissa Machado e Elaine Montemezzo (Iniciação Científica) e Ana Carolina Veríssimo e Laura Martini (Bolsa de Extensão). 


O texto completo do relatório da oficina pode ser acessado AQUI.

(acervo do grupo)

Acima, uma esquematização apresentando resumidamente a oficina em questão na qual, partindo das duas personagens, Aline fez os presentes refletirem sobre a opressão que ainda subjuga as mulheres e sobre o movimento Feminista e Educação. (Para ampliar basta clicar na imagem)

            Primeiramente Aline falou sobre sua formação em Pedagogia e início de seus estudos sobre Mulheres, especificamente negras, vinculando ao seu próprio pertencimento étnico negro.
Lembrou que no dia anterior se “comemorou” a assinatura da Lei Áurea. Porém, fez críticas às Leis ditas beneficiárias dos escravos, pois, de fato, nenhuma delas realmente os beneficiava, principalmente as mulheres.

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  • Com a Lei Eusébio de Queirós (1850) houve um aumento da circulação interna de escravos no Brasil. Consequentemente, as famílias já formadas foram separadas, o que afetou diretamente as mulheres, que eram as matriarcas.
  • A Lei do Ventre Livre (1871) considerava livres os filhos de mulheres escravas, nascidos a partir daquela data, porém haviam duas possibilidades, ou ficavam aos cuidados dos senhores até os 21 anos de idade ou eram entregues ao governo. O primeiro caso foi mais comum, beneficiando os senhores que poderiam usar a mão-de-obra destes “livres” até os 21 anos de idade
  • A Lei dos Sexagenários  (1885) prejudicou as mulheres idosas que já haviam trabalhado muito, que "já não tinham mais serventia", jogando-as na rua, sendo esta mais uma lei que beneficiava os proprietários que libertavam quem não produzia mais no trabalho pesado nas fazendas e casas.
  • Sobre a Lei Áurea, Aline ressalvou aos presentes uma questão: mesmo concordando com a necessidade da existência desta Lei, reconhece que sua eficácia plena somente seria possível se fosse uma lei escrita pelos Negros. Destaca que as conquistas dos Negros vem de suas lutas, de conquistas das mulheres negras, de seus saberes, de fugas na época da escravidão, do cuidado dos filhos, da luta até hoje para garantir os seus direitos. Então, são as ações que estas mulheres fizeram com a sua luta e não de leis ou benefícios de fora.

(acervo do grupo)
 Após a apresentação, pediu que os presentes se organizassem em grupos por afinidades (quem faz determinada coisa ou gosta de algo) para se apresentarem e conversarem durante 7 minutos sobre o que pensam a respeito da relação entre o movimento Feminista e a Educação. Terminado o tempo, situou de onde eram os cerca de 40 presentes que participavam da oficina (estes sendo estudantes de Magistério do Instituto de Educação e alunos do Curso de Aperfeiçoamento em EJA da UFRGS).


 Continua, trazendo as seguintes frases de “coisas que se ouve” sobre as mulheres solicita que, caso algumas delas fossem frases que não ouvimos mais, os presentes destacassem este fato.
(acervo do grupo)
             
               Uma mulher da platéia complementa dizendo que o pior é que ouve-se as próprias mulheres reproduzindo essas ideias, então Aline traz uma ideia de Paulo Freire que é referencia na Educação Popular:

“Não são os opressores que libertarão
os oprimidos,
são os oprimidos que libertarão
os opressores”

           Então, quem deve propor a mudança é quem está incomodado com a situação. No caso, pode-se entender que algumas mulheres partem da naturalização de alguns pensamentos porque não os questionam. Destacou, a respeito da naturalização, o fato de parecer que “se nasce machista”, então questiona:
  • “Uma criança nasce fazendo isso? Olha para o médico que está fazendo o parto e diz: Que bom que não é uma mulher porque se fosse, poderia até me deixar cair no chão porque é mais fraca”. Salienta que está enraizada esta cultura machista, que até quem sofre acaba repetindo o que se diz, de tanto ouvir.

             Após essa discussão, mostra frases dos anos 60 tiradas do Jornal das Moças e das Revistas Cláudia, que também colocam a mulher como subalterna. Uma professora presente na oficina, ao ler as frases, comenta que o Jornal das Moças era leitura obrigatória no colégio de freiras em que estudou.
(acervo do grupo)

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           Aline destaca também que os grandes pensadores, Kant, Rousseau, Schopenhauer, diziam que as mulheres eram incapazes, mas que, na mesma época, haviam mulheres filósofas que pensavam o contrário, mas  tiveram seus pensamentos ignorados por eles. 
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      Outra coisa interessante é o fato de que a menstruação já foi tida como comprovação de que as mulheres tinham pactos demoníacos, pela lógica das épocas de guerra, quando os homens que se machucavam e sangravam muito acabavam morrendo e as mulheres, que sangravam todos os meses, não morriam. Dizia-se que as mulheres tinham uma ferida interna e, por seu "pacto", não morriam. Outra explicação "científica" da época sobre as mulheres dizia que elas tinham brotos de crianças e que por isso às vezes ficavam “loucas” (TPM) quando estes se espalhavam pelo corpo.  Então, cabia ao homem “cutucá-los” para que estes nacessem e elas "se acalmassem".
      Por tudo isso, a mulher não podia ter gravidez independente (este pensamento era o germe da ideia de que a relação sexual, com homens, poderia acalmar as mulheres, acalmando seus brotos internos em desordem). Hoje a igreja católica ainda não permite os métodos contraceptivos e o aborto é totalmente rechaçado, trazendo a tona a repressão exercida sobre as mulheres e a sexualidade.

   Encaminhando para as discussões finais, mostra algumas tiras com diálogos entre Mafalda e Susanita, instigando o público presente a falar sobre o que entendeu dos diálogos.
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  • Na primeira, o grupo destaca o pensamento de Susanita sobre a imagem que irá passar para o marido se este souber que teve vários namorados antes do casamento. Uma das presentes comenta que ainda ouve amigos falarem que as meninas que não são mais virgens para eles são vagabundas (opiniões de jovens);
  • Na segunda, Susanita tem a ideia de que poderia trocar de marido associando este fato à vivência em uma sociedade de consumo, como se este fosse um objeto;
  • Na terceira, Susanita se espanta ao saber que a mãe de Libertad, uma de suas amigas, graduou-se e já estava casada e com filha. Aqui, Aline complementa dizendo que o problema vivenciado pelas mulheres na atualidade é a falta de ajuda para tarefas básicas, como cuidar da casa e dos filhos, que a mulher se condiciona ao casamento e muitas vezes pára de estudar por não ter quem cuide dos filhos além dela ou porque o marido não a deixa continuar os estudos.
  • Na quarta, Susanita imagina todo o caminho até o altar e acaba encontrando Manolito (por quem é apaixonada), lendo jornal sem se preocupar com aquilo que ocupava o pensamento dela, passando da ideia do glamour para a de que “nem tudo são flores”, tentando “enforcar-se” com as próprias linhas que faz corte e costura. Aline questiona o porquê de algumas visões se cristalizarem como certas e por que se cristalizam só para as mulheres? Lembrando que isso é comum até os dias de hoje, onde somente a mulher assume o "ritual do casamento". Tudo é um simbolismo: a mulher vai até o homem, quem leva a mulher é o pai e na falta desse o irmão ou outro integrante masculino da família, como que sempre necessitando estar “sob a guarda” do homem.
  • A última tira mostra que o fato de ser mulher nos aproxima, mas as lutas de classe, etnia, condição sexual, nos afastam, logo as mulheres também podem contribuir para a opressão de mulheres.


(acervo do grupo)
Partindo para a confecção das Mafaldas, Aline explica que os trabalhos de artesanato eram vistos como um momento onde as mulheres estavam ocupadas e não pensariam besteira, mas o “tiro saiu pela culatra”, porque o problema não eram as mãos desocupadas, eram as línguas. Enquanto faziam artesanato elas dialogavam e tramavam muito umas com as outras. Passando de uma forma de opressão, o artesanato vira possibilidade de emancipação, onde as mulheres podem discutir seus problemas e ter uma renda própria. 
(acervo do grupo)

Aline passa a palavra para as bolsistas, que se apresentam e falam brevemente sobre os projetos que trabalham. Após, distribuem as Mafaldas e os grupos realizam a montagem das mesmas, fazendo as colagens e criando falas ou pensamentos para a Mafalda que sintetizassem o que foi discutido.

As demais fotos da oficina Mafaldas e Susanitas estão AQUI, na página do Facebook da Professores Online.





Texto de Elaine Luiza F. Montemezzo, Bolsista de Iniciação Científica, esquematizado por Laura Dick Martini, Bolsista de Extensão, ambas estudantes de Pedagogia da UFRGS