terça-feira, 23 de agosto de 2011

Projetos de Trabalho na EJA - Palestra do dia 20 de Maio - Parte I

Projetos de Trabalho na Educação de Jovens e Adultos *Pesquisa participante: para além do “Universo Vocabular”


Esta postagem é um resumo esquematizado do relatório da 1ª parte da palestra do dia 20 de Maio de 2011.

O relatório pode ser acessado AQUI.






ref. img
Início
        Aline iniciou contando sua experiência com a Dengue que a impediu de realizar o  encontro do dia 15 de abril. Com o fato já superado, brinca com os/as professores(as) perguntando se eles não se preocuparam com ela, se haviam rezado ou orado para que melhorasse.


Informes sobre o Blog Professores Online
Passado esse primeiro momento de descontração, lembrou-os da possibilidade de postarem
- atividades,
- textos,
- poemas e eventos que acontecem nas escolas
no Blog, que está disponível como espaço de trocas de informações entre colegas da rede municipal, alunos e outras pessoas que queiram visitar o mesmo, além de divulgação e análise da prática educativa na EJA, através de entrevistas realizadas com os professores, que tratam sobre:

  • demandas da EJA,
  • da necessidade de políticas intersetoriais,
  • dos estudos realizados,
  • das práticas que realizam nas escolas,
  • dos anseios,
  • e da própria formação.
         O contato será feito pela Bolsista Laura, que fará entrevistas (que serão postadas no Blog posteriormente) com alguns dos professores. Lembrou também que eles podem visitá-lo, comentar sobre seu conteúdo e se, futuramente, o espaço tiver uma boa visitação, sendo uma vitrine para o trabalho realizado, pode-se transformá-lo em um portal (mais dinâmico, completo e com outros links).

A temática do encontro em questão
            Partindo para a temática da noite, lembrou dos estudos que realizou desde 2003 para a sua formação e destacou duas perguntas:
  • “Qual é a autoridade que o professor tem?
  • “Qual é, e de que maneira, o professor pode estabelecer vínculos com os educandos?” 
          Com base nessas perguntas disse que realizou várias pesquisas, trabalhos e entrevistas com professores, estudantes da EJA e pessoas que não frequentavam a escola.

Uma das pesquisas:
mulheres que abandonaram a escola ou foram abandonadas por ela (mais de uma vez). Questionou-as sobre:
- a instituição,
- quem eram seus professores,
- o que achavam deles.
A grande maioria tinha admiração pelos professores (pela forma como falavam, por suas "palavras bonitas", como mostravam outras realidades e “sabiam tudo”).
Com essa suspeita + referencial teórico  (Freire, Brandão, Gadotti, Educação Popular como um todo),  pensou sobre o que elas diziam, o que as teorias diziam e a que conclusões poderia chegar.
-> vínculo professor/aluno = vínculo pelo conhecimento

Questionamentos
Além dos professores(as) bem quistos, queridos, precisamos estabelecer o vínculo pelo conhecimento muito mais difícil de se estabelecer. Perguntou então:

  • “Qual o objetivo da escola?”

 (Comentando que obviamente, pensando na escola que desejamos, esta deve ser progressista e emancipatória)
Questiona os professores, em seguida, que respondem respectivamente:

  • “A escola é um lugar de produzir o quê?”
  • Um espaço de socialização.
  • "E qual seria o vínculo de socialização da escola?"
  • O conhecimento.
Adicional
 ~ Comenta então que faria um suprassumo para postagem no Blog sobre o texto do Juarez Dayrell, "a escola como espaço sociocultural", ressaltando que o autor destaca que o pátio, o corredor e outros lugares da escola são espaços pedagógicos, pois são espaços de conhecimento.
~ Fala que continuará formulando ideias e práticas baseando-se na tese do vínculo entre professor/alunos = conhecimento e que este, bem  construído, faz a diferença.

Convida os professores a pensar:
Um lugar da escola onde não existe conhecimento. *silêncio dos professores*
“O que é conhecimento na escola?” *silêncio novamente*. Uns responderam "vivências, as trocas".
-> A profa. Aline continua, dizendo que Matemática é um conhecimento, como Português, Ciências Sociais, Ciências Naturais, Artes Plásticas, Expressão Corporal. Dentro da função socializadora da escola, todos estes conhecimentos circulam.
            Socialização de alguns casos:
- Professor que perdeu o vínculo pelo conhecimento;
- Professor, mantendo o vínculo pelo conhecimento, fez com que os alunos perdessem oportunidades de pensamento.

Primeiro caso
Um aluno fez uma pergunta para a profa. de um assunto que ela não dominava. Ela respondeu que sabia, mas não lembrava. O aluno percebeu que ela não sabia e disse isso para ela. A professora retrucou dizendo que sabia, os dois ficaram discutindo sobre “saber e não saber” durante um bom tempo.

Segundo caso
ref. img
Uma turma que não conseguia enxergar a possibilidade da professora não saber, nunca questionava o que a professora dizia. Um dia a professora escreveu no quadro três frases sobre o Rio Grande do Sul:
“A cultura gaúcha é uma cultura milenar”, 
“Todo gaúcho ama o seu estado”,
“Quem mora no RS é gaúcho”.
Os alunos passam a reproduzir o que lhes foi passado sem questionar.



Terceiro exemplo
ref. img
Tem relação com o segundo caso, porém, com desfecho diferenciado. Uma professora faz uma aula maravilhosa sobre “Outono”, afirmando que as folhas das árvores caíam por causa do excesso de ventos nesta época do ano. Após o término da aula, a professora comentou  com a coordenadora pedagógica sobre a aula excelente. Esta lhe diz que a informação estava errada, explicando o motivo correto das folhas caírem no Outono. No outro dia a professora volta à sala e reporta aos alunos que cometeu um erro sobre o assunto tratado. Explicou, pois, corretamente como ocorria o fenômeno descrito.


Reflexões acerca dos exemplos:
(todas as constatações foram feitas em grupo com as discussões dos professores)
- O que os professores pensavam sobre as três posturas;
- Onde havia a perda da autoridade do conhecimento das professoras.
-> Imediatamente, salientaram o primeiro.

- Qual a concepção de professor(a) que aparece nas três situações?
-> Primeira, a professora era prepotente e dona da verdade.
->Segunda, a professora não foi questionada, então também era dona da verdade.
->Terceira, sabia algumas coisas e ignorava outras, ou seja, uma pessoa “normal”.

- O que aconteceria se estas situações tivessem ocorrido com adolescentes e professores?
->Na primeira, disseram que “daria briga”.
->Na segunda, ao repassar a informação, os alunos poderiam descobrir o erro.
->Na terceira, o aluno pode entender o professor e respeitá-lo.

- Em qual das três situações o risco é maior de perda de autoridade pelo conhecimento?
-> na primeira e na segunda situação.

Aline relembrou que os fatos contados são reais e chamou a atenção dos professores para o fato de que, perder a autoridade pelo conhecimento é fácil, difícil é conquistá-la. Ainda destacou que a gente se propõe na escola a construir autoridade pelo conhecimento.                                                                             
         Os professores fizeram algumas colocações trazendo questões históricas e antropológicas sobre as frases equivocadas da professora, principalmente sobre o segundo caso.
            Aline perguntou se alguém, em seu período escolar, passou por alguma situação parecida com aquelas que foram contadas, chamando à frente  aqueles professores que tivessem algum exemplo para contar.
- Alguns professores contribuíram. Um professor, negro, salientou que sempre aprendeu que não houve a contribuição negra para a formação do povo gaúcho e que, até hoje, os professores continuam ensinando desta forma. Isto se trata de um preconceito histórico, ainda enraizado em muitas pessoas, que se acham as “donas da verdade”.

- “Por que será que esse conflito acontece entre os adolescentes e os professores? Por que alguns conflitos são acirrados na adolescência?”
->Alguns responderam que é por causa da contestação e da distração do adolescente. Aline completou dizendo que crianças também tem uma fase de contestação, mas que a adolescência apresenta-se também com outros fatores.

Os professores que são mais velhos estão mais vulneráveis as contestações da fase da adolescência, pois a adolescência é a fase da contestação, ou tem se mostrada historicamente, socialmente e cognitivamente  como a fase da contestação.        


Segunda parte da palestra sobre Projetos de Trabalho na EJA continua na próxima postagem.