sábado, 30 de abril de 2011

“As mulheres e a EJA” - Palestra de 18 de Março de 2011

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    Aqui apresentamos um resumo esquematizado da palestra realizada por Aline Lemos da Cunha na noite do dia 18 de Março, no Salão Nobre da Prefeitura que teve como temática “As mulheres e a EJA”.

O texto completo pode ser acessado clicando AQUI e os slides da apresentação estão disponíveis AQUI.



Aline começa relembrando o ponto principal da palestra da aula inaugural, falando sobre “a pergunta”, ou seja,
Que oportunidades de reflexão os professores proporcionam para os estudantes se estes já estão com a resposta pronta para a maioria dos tópicos?
Ou ainda, o que se faz quando não conseguem lidar com a resposta do outro?
Informou que se reuniu com professores (que trabalham no pré-vestibular e pré-Enem Popular da UFRGS) no dia anterior. É um desafio para eles pensar um currículo preparatório para essas provas e que seja estimulante, tenha sentido e crítica social.
Por esse motivo,  surgiu a ideia de trazê-los para compartilhar suas práticas nos encontros por áreas do conhecimento.
Dando início à discussão da temática “As Mulheres e a Educação de Jovens e Adultos”, Aline instiga os professores a refletirem sobre o motivo da temática: percebe-se que a maior parte do corpo docente é composta por mulheres.
Destaca também que, dependendo da modalidade de ensino e também do nível, o número de alunas mulheres em sala de aula tende a ser de até 80%, um número muito elevado.
Logo, pensando historicamente, politicamente, socialmente, pedagogicamente, o que significa dizer que nós temos uma maioria de mulheres na EJA e na docência da EJA?
Podemos não compactuar com a ideia expressa na frase “Por trás de um grande homem, sempre existe uma grande mulher” questionando porque ela tem que estar atrás, porque não pode estar "ao lado do grande homem"... (A discussão dessas questões de forma mais desenvolvida pode ser acessada pelo texto na íntegra e com a leitura dos slides).
Crucial nestas análises é a naturalização, a cristalização da condição de que as mulheres devem ser carregadas pelos homens.
Nos slides seguintes, cita o livro do filósofo Arthur Schopenhauer, do século XVIII ou XIX que descrevia sobre como as mulheres em sua época deveriam ser, sendo base para outras ideias. Mais informações sobre isso estão no texto na íntegra (link no começo da postagem).
Dois slides imediatos apresentavam frases retiradas de revistas femininas dos anos 50 e 60, onde o magistério feminino no Brasil estava em alta (Jornal das Moças e Revista Cláudia) que circulavam no Brasil no século XX, ditando como as mulheres deveriam ser.
Por exemplo a orientação:
“Se desconfiar da infidelidade do marido, a esposa deve redobrar seu carinho e provas de afeto, sem questioná-lo”. (Revista Claudia, 1962)
A partir dessas ideias, Aline diz que para as mulheres professoras também era ordenado serem boas, não reivindicarem, não reclamarem.
A ideia de a mulher ser o “segundo sexo” está naturalizada nas relações culturais e sociais de homens e de mulheres há séculos, por isso Aline deixou como provocação para a continuidade do encontro o título/novidade:
“Algumas mulheres que disseram alguma coisa e ninguém ficou sabendo”.

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Dessas mulheres, inicia por Elza Freire, cuja contribuição na obra de Paulo Freire foi fundamental. Tanto para o sustento deste como para os filhos em tempos de perseguição na ditadura militar brasileira, como para ampliar o olhar deste pedagogo o qual, sempre questionava as visões de mundo dos educandos e educadores (conforme ele mesmo destaca no livro Medo e Ousadia) e apresenta uma visão restrita sobre as possibilidades de contribuição para o seu trabalho do que fora produzido por intelectuais norte-americanos.
Elza contribui também no método de alfabetização freireano. Assim também, contribuiu para a “lucidez” de Karl Marx, Jenny Marx, sua companheira, que o influencia a dar aulas particulares de Filosofia, para com elas garantir o sustento da casa.

Apresentou a foto de outra mulher, Mileva Einstein (Nos slides da palestra há uma pequena biografia sobre ela), que foi companheira de Einstein.
Muitas mulheres desistem da Educação de Jovens e Adultos porque seus maridos não querem que estudem. Frisa, então, a importância de pensar essa questão no cotidiano da EJA e as alternativas que se tem para alterar o quadro.


A última mulher destacada é Ana Freud, que questiona as teorias, achados e afirmações de Freud. Como Elsa Freire, não se restringe a uma verdade e pensa sobre outros prismas.
Surge, a partir disto, uma indagação:

Por que as mulheres fazem mais questionamentos, lançam dúvidas, não ter um olhar estreito (obviamente muitas mulheres também tem o olhar restrito)?

O erro é visto pela sociedade de forma diferente para homens e para as mulheres. As mulheres “têm o direito de errar”, de ter o coração mole, os homens não, talvez por isso a elas seja permitido expressar “sandices” como questionar Freire, Freud e Einstein.
Citou o fato de alguns médicos e médicas considerarem os cursos de licenciatura muito fáceis, pouco importantes, esquecendo que para estar onde estão passaram por séries iniciais e finais e, muito provavelmente, por uma grande maioria de professoras mulheres, e mais, não consideram que muitos dos conhecimentos que hoje a Medicina utiliza, como puericultura, ginecologia e pediatria são conhecimentos que eram dominados pelas mulheres.
Após o breve intervalo, Aline propõe que baseados nas “denúncias” feitas no decorrer da palestra, os professores formem grupos de seis componentes para pensar sobre duas questões:
Como nós poderíamos transformar essa realidade? e Qual a contribuição desse tipo de discussão que fizemos para a prática pedagógica no cotidiano da EJA?”


As respostas dos grupos foram sendo agregadas aos slides para discussão em grande grupo. No momento da socialização das respostas de cada grupo, destaca que o que eles escreveram e agregaram à palestra não é “qualquer coisa”, é produção de conhecimento, é ciência, porque são percepções de professores que estão na escola, no cotidiano da EJA.
 Salienta que foi um processo de ensinar e aprender que culminou na sistematização que estavam fazendo e termina falando que a segunda pergunta é uma avaliação do encontro para poder pensar nos próximos, que serão de discussões mais práticas para o cotidiano escolar, visto que até o momento foram trabalhados e discutidos os fundamentos para a compreensão dos sujeitos da Educação de Jovens e Adultos.
Texto de Elaine Luiza F. Montemezzo, Bolsista de Iniciação Científica, e esquematizado por Laura Dick Martini, Bolsista de Extensão, ambas estudantes de Pedagogia da UFRGS.

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